Um Clamor por Empatia e Justiça
A migração é um fenômeno tão antigo quanto a própria humanidade. Desde os primórdios, povos se deslocaram em busca de melhores condições de vida, segurança, abrigo e liberdade. No entanto, nas últimas décadas, o cenário global se agravou com o aumento dos conflitos armados, mudanças climáticas, crises econômicas e perseguições políticas e religiosas, gerando um fluxo cada vez maior de refugiados e migrantes forçados. Infelizmente, junto com esse fluxo, cresce também um discurso desumanizante, que transforma seres humanos em "problemas", "ameaças" ou "estatísticas".
O que significa ser um refugiado?
Segundo a Convenção de Genebra de 1951, um refugiado é alguém que foi forçado a deixar seu país por temer perseguições relacionadas a raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. Ao contrário do que muitas vezes se diz, a maior parte dos refugiados não escolhe migrar – eles fogem para salvar suas vidas.
É importante distinguir os migrantes econômicos, que se deslocam em busca de melhores condições, dos refugiados, que escapam de guerras, fome, catástrofes ambientais ou regimes opressores. No entanto, ambos compartilham a vulnerabilidade de quem deixa tudo para trás.
A desumanização no discurso e na prática
Infelizmente, muitos governos e setores da sociedade tratam os migrantes como ameaças ao invés de vítimas. Políticas de fronteira cada vez mais rígidas, centros de detenção precários e discursos xenofóbicos alimentam a ideia de que migrar é um crime, e não um direito ou uma necessidade.
A linguagem usada por líderes políticos e parte da mídia frequentemente reforça essa desumanização. Expressões como “invasão”, “crise migratória” e “ilegal” ajudam a criar uma imagem distorcida dessas pessoas, como se fossem perigosas, indesejadas ou responsáveis por seus próprios sofrimentos. Quando se deixa de ver o migrante como ser humano, justifica-se a indiferença, o abandono e até mesmo a violência.
Mulheres, crianças e a face invisível do sofrimento
As mulheres migrantes estão entre as mais vulneráveis, muitas vezes expostas à exploração sexual, tráfico humano e violência de gênero durante a travessia ou nos locais de destino. Crianças migrantes, por sua vez, sofrem traumas profundos, com perdas familiares, interrupções na educação e dificuldades de adaptação em terras estrangeiras. Muitas crescem em campos de refugiados, com o futuro suspenso.
Resistência e solidariedade
Apesar da narrativa desumanizante, há movimentos sociais, ONGs, iniciativas comunitárias e cidadãos que oferecem apoio e acolhida. Países como Canadá, Alemanha e Uganda já desenvolveram políticas mais humanas de acolhimento, embora ainda insuficientes frente à demanda. Projetos como os "Cidades Santuário" também vêm crescendo, criando redes de apoio e proteção local a refugiados.
Mas ainda há muito a fazer. A solidariedade precisa se transformar em políticas públicas efetivas, e o reconhecimento da dignidade humana dos migrantes deve estar no centro desse processo.
E nós, o que temos a ver com isso?
Vivemos tempos em que a empatia precisa ser mais do que uma palavra bonita. Diante de tanto sofrimento, a neutralidade se torna uma escolha política – e quase sempre, favorável à opressão. Todos nós podemos contribuir: com informação, com escuta, com combate ao preconceito e, principalmente, com ações concretas de acolhimento e respeito à dignidade do outro.
Em tempos de muros, que sejamos pontes.
Referências:
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ACNUR Brasil. https://www.acnur.org/portugues/
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ONU Migração – Organização Internacional para as Migrações. https://www.iom.int/pt
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SASKIA SASSEN. “Expulsions: Brutality and Complexity in the Global Economy”. Harvard University Press, 2014.
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BAUMAN, Zygmunt. “Estranhos à nossa porta”. Zahar, 2017.
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