O que é essa dor?
Há dores que sangram sem ferida. A rejeição é uma delas. Ela não arranca pedaços do corpo, mas deixa a alma marcada. Pode começar com algo aparentemente pequeno: não ser chamado para brincar, não ser escolhido para um projeto, ser ignorado por alguém que se ama. Com o tempo, essas pequenas negações viram grandes buracos internos — difíceis de enxergar, mas profundos o suficiente para moldar uma vida inteira.
A rejeição toca nossa estrutura mais básica: o pertencimento. Somos seres sociais por natureza, e desde o nascimento buscamos nos conectar para sobreviver. Quando não conseguimos — ou quando somos recusados —, o cérebro reage com alarme. Estudos em neurociência mostram que a rejeição ativa as mesmas áreas do cérebro que a dor física, como o córtex somatossensorial e a ínsula anterior. Isso explica por que o “coração partido” dói de verdade.
Como o corpo sente essa dor?
No corpo, essa dor pode se manifestar como um nó no estômago, uma tensão nos ombros, insônia, cansaço, baixa imunidade. Para muitas pessoas, o efeito mais silencioso é o corte na autoestima: começamos a acreditar que o problema está em nós, e não no outro ou no contexto. Esse pensamento repetido constrói uma armadilha emocional chamada “auto-rejeição”.
Mas por que a dor da rejeição é tão duradoura? Porque ela não apenas dói — ela ecoa. Toda nova exclusão pode reabrir a ferida da primeira. Muitas vezes, adultos reagem com raiva, medo ou distanciamento em situações atuais que na verdade ativam rejeições passadas — da infância, de relacionamentos, da vida profissional.
Por que ela é tão comum?
Porque somos seres sociais. Desde a infância, nossa identidade se constrói na relação com o outro. A exclusão ou desvalorização repetida nos faz internalizar a ideia de que algo está errado conosco.
Como lidar com essa dor?
É possível acolher essa dor com cuidado e consciência. Um dos caminhos é perceber quando você está se rejeitando para evitar ser rejeitado pelos outros. Isso acontece quando silenciamos nossas opiniões, mudamos nossa essência para agradar, ou nos auto-sabotamos para evitar riscos emocionais. A autocompaixão é o primeiro antídoto.
Outras práticas de apoio incluem:
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Respirar profundamente por ciclos de 4 segundos (inspira) e 6 segundos (expira) para regular o sistema nervoso.
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Fazer uma carta para si mesmo como se fosse um amigo que sofreu rejeição. O exercício muda a forma como nos tratamos.
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Chás como camomila, mulungu e lavanda podem ajudar a acalmar a ansiedade.
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Atividades de reconexão como caminhada na natureza, jardinagem ou arte ajudam a restaurar a autoestima e ampliar a percepção de valor.
A dor da rejeição não precisa nos definir. Ela pode, com cuidado, se transformar em ponte para a autovalorização. Afinal, muitas vezes, quem nos rejeita está apenas limitado pela própria dor — não pela nossa verdade.
Quantas vezes você se rejeita antes mesmo que o outro o faça?
✨ Talvez a cura esteja em se escolher. Todos os dias. Mesmo quando o mundo não o faz.
Referências:
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Eisenberger, N. I., & Lieberman, M. D. (2004). Why rejection hurts: a common neural alarm system for physical and social pain. Trends in Cognitive Sciences.
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Neff, K. (2011). Self-Compassion: The Proven Power of Being Kind to Yourself.
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Cortella, M. S. (2013). Por que fazemos o que fazemos?

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